Sem que eu fizesse qualquer esforço, minha filha mais nova
tornou-se uma apaixonada pela Copa do Mundo.
Como em tantos outros casos, não se trata de paixão pelo futebol, como
costumam atribuir a todo brasileiro. Mas paixão pela Copa do Mundo. Paixão por
ver tanta gente envolvida em torno de um objetivo. Tanta festa, tanto motivo
pra juntar todo mundo, pra celebrar, pra preparar. A gente acaba concordando
que o melhor da festa é esperar por ela.
Tentar completar o álbum de figurinhas, conhecer o nome dos
jogadores, conhecer os países, descobrir de qual deles são os maiores craques.
Foi com o álbum que ela descobriu que língua se fala na Croácia. Foi através
dele que ela se interessou por saber se Portugal de Cristiano Ronaldo ficava
perto da Holanda de Robben. Descobriu
que Brasil se escreve com Z em inglês e que quais são as cores da bandeira da
França.
Aprendeu a fazer conta para trocar as figurinhas repetidas.
Aprendeu até sobre a lei da oferta e da procura quando decidiu pagar cinco
reais pela rara W1, que custaria apenas vinte centavos em condições
normais. Aprendeu que temos que confiar
nas pessoas, mas é preciso vigiar as suas figurinhas porque nem todo mundo
pensa e age como a gente. Aprendeu que não importa quanto tempo você passe no
troca-troca de figurinhas dos domingos de manhã na banca de revistas, às vezes
a gente não acha a figurinha que falta para completar a seleção brasileira.
Vestiu a camisa do Brasil, conscientemente e por vontade
própria, pela primeira vez no jogo contra a Croácia. Aprendeu quantos minutos
tem em cada tempo do jogo. Aprendeu que não é certo conseguir as coisas com a
força e que isso pode levar a um cartão amarelo. No jogo e na vida. Aprendeu
sobre falta, escanteio e intervalo.
No jogo contra o México, aprendeu a ter paciência. Entendeu
que, por mais que a gente tente, às vezes,
não é o dia. Mas que tem que continuar tentando. No jogo contra Camarões, aprendeu com a irmã
que até de uma comemoração a gente pode sair machucado. Com o Chile, aprendeu
que não se pode “cantar” a vitória antes do tempo e que muitas vezes a gente
passa muito aperto para conseguir o que quer.
Começou o jogo contra a Colômbia odiando o prodígio James
Rodriguez. Terminou nem lembrando quem ele era, por conta de um outro
colombiano cujo joelho encontrou a vértebra do nosso camisa 10. Aprendeu,
assim, que tudo muda, às vezes, de um minuto para o outro. Aprendeu que
qualquer um pode errar. Até o capitão-ídolo Thiago Silva. E que a gente deve pagar pelos nossos erros.
No jogo contra a
Alemanha ela aprendeu a sofrer. Talvez tenha aprendido ali o sentido da
palavra decepção. Chorou, reclamou, perdeu as esperanças depois do terceiro
gol. Viu de perto o que é desistir. Mas aprendeu também que uma vitória precisa
de muito mais do que torcida e vontade. Precisa de preparo, de estudo, de
treino. Precisa de suor e às vezes até de dor. Precisa de um caminho, de
orientação. Precisa de calma, precisa de equilíbrio. Precisa de ajuda,
cooperação, integração.
Aprendeu que nem sorrisos e nem lágrimas ganham jogo.
Aprendeu que a sorte
pode acordar com um lado ou com o outro, mas não faz quase nada sozinha.
Aprendeu, ainda, que, por mais que se perca, a gente deve continuar sonhando com a
Vitória. E, principalmente, que a gente pode ganhar de maneiras diferentes,
independentemente do placar final.
2 comentários:
Rê, adoro seus textos! Parabéns por mais este. Vivenciei o mesmo aqui com meu mais velho. Muito bom viver com eles isso tudo, nao é? Beijos, Flá.
Wow!!! Precisava vir aqui e mudar o meu olhar sobre a Copa. Quanta sabedoria retirada e quanto aprendizado!!
:)
Boa semana!!
Beijus,
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