dezembro 26, 2008

Quanta Saudade...

Se tem uma coisa da qual eu tenho saudades é de ter tempo para minhas amigas. E de ter o tempo delas pra mim. Um tempo despreocupado, despretencioso, que nos deixava passar noites inteiras em claro, morrendo de rir e ouvindo Fleetwood Mac. Mas o tempo passa. Para nós também passou. E hoje, estamos, cada uma com uma vida diferente, uma profissão diferente, filhos, maridos e casas para cuidar.

Mesmo assim, não tem profissão ou problema que nos faça esquecer do quanto fomos felizes juntas. Somos ainda, é claro, e continuamos juntas. Sempre. Mas hoje é diferente. Hoje não tem mais o apartamento 202 do Edifício Barão de Mauá para ser o nosso refúgio, o nosso ponto de encontro no centrinho da cidade, de onde saíamos para quase tudo e para onde voltávamos muitas vezes. Hoje não ‘subimos’ para cachorro quente da Tia Nina que ficava pronto sempre que chegávamos à tarde, não tem mais o Trailler do Bolha, a casa da Valeska, as aulas de Educação Física com o Zé Luiz (que eu e outra preguiçosa sempre arrumávamos um jeito de enrolar), ou as viagens para Belo Horizonte ou Porto Seguro. Tanta coisa que me faz querer chorar de tanto que a saudade aperta no peito.

Aperta no peito a saudade de cada brigadeiro de colher que comemos (e não foram poucos, tanto que, dentre, nós, saiu a maior especialista, aquela que faz o melhor brigadeiro do mundo e que ninguém consegue fazer igual...Acho que é ‘o amor’ que ela tem pela coisa – quase igual ao amor que eu tenho por ela...). Aperta no peito a saudade de tudo o que fizemos juntas. Daquilo que não fizemos também...Mas, será que deixamos de fazer alguma coisa? Foram tantas gargalhadas, dias do ‘auge’, códigos secretos descobertos e divulgados...

Éramos dez. Quer dizer, acho que nunca fomos dez, sempre nove. Mas queríamos ser dez, porque achamos o máximo o nome DECURIA, então, de um jeito ou de outro, éramos dez. Assim queríamos, assim fazíamos. Assim dava certo. Dentre as dez, personalidades de todo jeito. Cada uma encantava – e encanta - a sua maneira, e uma completava a outra. Umas mais briguentas, que nunca mandavam recado e sempre defendiam todas nós. Uma delas até brigava e ameaçava jogar o livro de Matemática na cabeça de um certo ‘senhor’ que nos seguia na rua – minha heroína! Outras mais choronas, para quem não se podia dizer um ‘não’ mais fechado, porque dava até febre. As mais namoradeiras, as mais engraçadas, as que sempre bebiam um pouquinho mais, as que nos faziam jurar com a mão em cima da bíblia, na capela do colégio, antes de contar um segredo acontecido durante as férias. Não conto nem sob tortura, afinal, jurei com a mão em cima da bíblia! Tinha também quem entendesse tudo de física. E também quem não entendia nada e resolvia estudar às três da manhã no dia da prova...E ainda ameaçava dizendo que se ninguém ajudasse, todas teríamos pesadelos escorregando na tangente ou sendo perseguidas por logaritmos.

Nunca cheguei a ser perseguida por logaritmos, mas sou perseguida até hoje pela saudade dessa época. Mas eu me consolo fácil, mesmo porque nos falamos quase todos os dias, ainda que seja só por e-mail. Me consolo também porque quando nos encontramos, é a mesma coisa. A mesma intimidade se percebe entre nós, a mesma alegria, as mesmas gargalhadas, e até os mesmos brigadeiros. Muitas vezes substituídos por churrascos (até porque agora, os maridos também palpitam), mas sempre cercados de uma felicidade e um amor imensos. Um amor que não acaba, que não diminui. Só aumenta, porque agora temos os filhos e maridos de cada uma para amar também.

Muitas vezes o tempo não nos permite dizer o quanto amamos. Talvez, no nosso caso, isso nem seja necessário, porque sentimos. De verdade. Mas, ainda assim, hoje, eu vou dizer que cada uma é uma irmã-escolhida para mim. Uma tia-amada para as minhas filhas. Uma saudade para nunca esquecer. Uma felicidade que sempre vai existir e preencher o meu coração.

Minha amiga sumidinha, que fica meses sem dar notícia, sem dizer um oi, mas que está perdoada por causa do filhote,
Minha amiga-boa-vontade, que sempre estava (e está) pronta para ajudar e proteger todo mundo, e que está voltando para casa em fevereiro – assim nós esperamos;
Minha amiga tão querida que chorou tantas vezes no meio da madrugada com uma camiseta verde grande e que tem um coração tão lindo;
Minha amiga doce, linda, que cuidava de mim na época das aulas de teatro e até me levava em casa a pé, porque eu era – e sou - a fofa dela;
Minha amiga baiana-capixaba-carioca que dormiu muito tempo em um ‘bercinho’ feito para ela ao lado da minha cama porque, afinal, sempre fomos as menores da turma;
Minha amiga-dainrou que é uma paixão da minha vida, que me esperou tantas vezes dormir mais cinco minutinhos antes do colégio e que sempre me conheceu tão bem;
Minha amiga-irmã que casou com o amigo-irmão do meu marido e que deu a amiga-irmã das minhas filhas e que, Graças a Deus, tenho perto todo dia e que amo muito, sempre;
Minha amiga para sempre vizinha, para a casa de quem eu ia com o colchão arrumado e que me faz muito feliz por estar mais perto agora (fisicamente, porque no coração, sempre esteve e sempre estará);
Enfim, minhas amigas maravilhosas, de quem eu tenho tanto orgulho e tanta saudade: O meu maior desejo é que as minhas filhas tenham amigas assim, para que possam ser felizes como fui e sou tendo vocês por perto!


 Fleetwood Mac - Everywhere

dezembro 20, 2008

Para fazer antes de morrer...

Eu gosto desse tipo de desafio. Pensar em oito coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer...Gosto porque coloco em ordem as minhas prioridades e penso no que realmente importa. São muitas as coisas que ainda quero realizar, algumas de ordem material outras espirituais, familiares e pessoais. Cada uma com a sua importância. Talvez poderia responder a esse desafio da Lucia (Lucia in the sky) considerando que tenho pouco tempo de vida, mas como sou otimista de carteirinha, vou registrar coisas que posso fazer em 1 ano, 10, 15, 20...50 anos...

1) Fazer um cruzeiro maravilhoso com a minha família;
2) Voltar ao mesmo hotel que passamos a nossa Lua de Mel com nossas filhas;
3) Aprender a cozinhar;
4) Escrever um livro;
5) Conhecer Paris;
6) Fazer um curso/módulo de ligado à literatura;
7) Ver as minhas filhas crescerem saudáveis e felizes;
8) Aprender a dizer NÃO.

Poderia estender ainda muito essa lista, mas poderia ainda, resumí-la em apenas um item, ou, ainda, modificá-la completamente...O que importa é que sempre terei oito (ou oitenta) desejos, sonhos e objetivos. Acredito que é a capacidade de desejar que nos mantém vivos...

dezembro 15, 2008

A Lógica do Vento

Não sou noveleira. Até gostaria de ser, confesso, mas me falta tempo.Quando o tempo aparece, ainda que não seja uma constante, a TV acaba parada no Discovery Kids. Assim, conheço muito de Barney e seus amigos, Mr. Maker, e companhia ltda., e pouco dos personagens tão comentados das novelas atuais. Mas, mesmo não acompanhando assiduamente as novelas de hoje, me vejo, como todo brasileiro, odiando as maldades da Flora, personagem da maravilhosa Patrícia Pillar (sou fã desde Roque Santeiro, quando ela era a "Linda Bastos".) e fascinada por sua interpretação.

Me fascinou também um trecho que ouvi, de relance, de uma entrevista dela ontem, na qual ela dizia que o ator sempre aprende um pouco com os seus personagens.Mas com a Flora? O que se poderia aprender, meu Deus? E aí, ela disse que a Flora lhe ensinou a dizer NÃO. Aquele não cheio, merecido, que todo mundo deveria saber falar, sempre que necessário. E completou dizendo: -Até mesmo a Flora tem algo para ensinar, olha só como é a vida...

E eu fiquei pensando nisso. Realmente, até mesmo as Floras da vida têm alguma coisa para nos ensinar.Talvez seja essa a lógica da vida, do vento. O tanto que se aprende pode ser proporcional à quantidade de Floras que aparecem em nossas vidas.Talvez para virar o jogo, e transformar a perda em recompensa, como na letra linda da música do Lenine, que, linda assim, 'embala' a mente perversa da Flora...

 Lenine - É o que me interessa

dezembro 05, 2008

FERREOMODELISMO...

Ontem ele chegou com um trenzinho em casa. Quero dizer, ferreomodelismo, como ele prefere chamar. Assim, chamado de ferreomodelismo, parece coisa de ‘gente grande’. Bom, mas na verdade ele É gente grande. BEM GRANDE. Grande no tamanho, no caráter, no humor, no coração, na alegria. Grande do jeito que eu sempre imaginei um Príncipe Encantado. Não que ele seja um, pois a nossa vida, graças a Deus, não é um conto de fadas, e nós sabemos disso. Mas sabemos também que não tem que ser, pois o mundo não é cheio de passarinhos que cantam enquanto nos ajudam a esticar o lençol da cama e a lavar a louça do jantar.

Mesmo grande, ontem eu vi olhos de criança diante do trenzinho recém-adquirido. Olhos lindos, que tentavam se convencer de que as meninas adorariam o novo brinquedinho. Elas olharam, é claro, como qualquer criança olha qualquer novidade. Mas o interesse, de fato, era dele, do nosso homem grande, com alma de criança.

Que bom saber que é assim...Que tudo isso que me encantou nele não foi apagado pelo tempo, pelo trabalho, pelas responsabilidades, pelas ‘obras e reformas’ da vida, pelas audiências intermináveis, pelos clientes que querem uma solução para o seu problema de uma vida em um minuto, pela falta de férias e por tantas outras coisas que fazem parte da vida adulta.

Hoje ele é um homem sério, às vezes até bravo, exigentíssimo, grande homem. Mas ainda é tudo aquilo que eu encontrei, há quase 20 (!) anos atrás...Sou feliz com ele. Muito. Sou feliz com as filhas que estamos criando juntos, com a nossa casa, com a nossa vida, com a nossa relação. Sou feliz porque ele me faz assim. E ele sabe. Assim como sabe que ferreomodelismo é, basicamente, um trenzinho em miniatura que anda sobre trilhos e que é sim, a nova forma que o homem grande encontrou de se fazer criança outra vez. Assim como sabe que vai vir aqui ler esse post, mesmo dizendo que ‘não gosta muito dessa coisa de blog’. Eu também sei que ele vem. E adoro isso.


E olha só o que eu consegui...É da Marisa Monte!

 Marisa Monte - Não é Proibido

dezembro 04, 2008

Recomeços...

Recebi por e-mail essa carta, escrita por uma médica otorrinolaringologista de Santa Catarina, e achei que vale a pena repetir...

29 de Novembro de 2008

Enfim, o sol cobre Santa CatarinaMeus amigos,Hoje 29 de novembro de 2008 o sol saiu e conseguimos voltar a trabalhar. A despeito de brincadeiras e comentários espirituosos normais sobre esta "folga forçada" a verdade é que nunca me senti tão feliz de voltar ao trabalho. Não somente pelo trabalho, pela instituição e pela própria tranqüilidade de ter aonde ganhar o pão, mas também por ser um sinal de que a vida está voltando ao normal aqui no nosso vale do Itajaí. As fotos que circulam na internet e os telejornais já nos dão as imagens claras de tudo que aconteceu então não vou me estender narrando e descrevendo as cenas vistas nestes dias. Todos vocês já sabem de cor. Eu quero mesmo é falar sobre lições aprendidas. Por mais que teorias e leituras mil nos falem sobre isso ainda é surpreendente presenciar como uma tragédia desse porte pode fazer aflorar no ser humano os sentimentos mais nobres e os seus instintos mais primitivos. As cenas e situações vividas neste final de semana prolongado em Itajaí nos fizeram chorar de alegria, raiva, tristeza e impotência. Fizeram-nos perder a fé no ser humano num segundo, para recuperar-la no seguinte. Fez-nos ver que sempre alguém se aproveitará da desgraça alheia, mas que também é mais fácil começar de novo quando todos se dão as mãos.
Que aquela entidade superior que cada um acredita (Deus, Alá, Buda, GADU etc.) e da forma que cada um a concebe tenha piedade daqueles:
- Que se aproveitaram a situação para fazer saques em Supermercados, levando principalmente bebidas e cigarros
- Que saquearam uma farmácia levando medicamentos controlados, equipamentos e cofres e destruindo os produtos de primeira necessidade que ficaram assim como a estrutura física da mesma.
- Que pediam 5 reais por um litro de água mineral.
- Que chegaram a pedir 150 reais por um botijão de gás.
- Que foram pedir donativos de água e alimentos nas áreas secas pra vender nas áreas alagadas.
- Que foram comer e pegar roupas nos centros de triagem mesmo não tendo suas casas atingidas.
- Que esperaram as pessoas saírem das suas casas para roubarem o que restava.
- Que fizeram pessoas dormir em telhados e lajes com frio e fome para não ter suas casas saqueadas.
- Que não sentiram preocupação por ninguém, algo está errado em seu coração.
- Que simplesmente fizeram de conta que nada acontecia, por estarem em áreas secas.
Da mesma forma, que essa mesma entidade superior abençoe:
- Aqueles que atenderam ao chamado das rádios e se apresentaram no domingo no quartel dos bombeiros para ajudar de qualquer forma.
- Os bombeiros que tiveram paciência com a gente no quartel para nos instruir e nos orientar nas atividades que devíamos desenvolver.
- A turma das lanchas, os donos das lanchinhas de pescarias de fim de semana que rapidamente trouxeram seus barquinhos nas suas carretas e fizeram tanta diferença.
- À equipe da lancha, gente sensacional que parecia que nos conhecíamos de toda uma vida.
- Aos soldados do exército do Paraná e do Rio Grande do Sul.
- Aos bravos gaúchos, tantas vezes vitimas de nossas brincadeiras que trouxeram caminhões e caminhões de mantimentos.
- Aos cadetes da Academia da Polícia Militar que ainda em formação se portaram com veteranos.
- Aos Bombeiros e Policias locais que resgataram, cuidaram , orientaram e auxiliaram de todas as formas, muitas vezes com as suas próprias casas embaixo das águas.
- Aos Médicos Voluntários.
- Às enfermeiras Voluntárias.
- Aos bombeiros do Paraná que trabalharam ombro a ombro com os nossos.
- Aos Helicópteros da Aeronáutica e Exercito que fizeram os resgates nos locais de difícil acesso.
- Aos incansáveis do SAMU e das ambulâncias em geral, que não tiveram tempo nem pra respirar.
- Ao pessoal do Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo, que mostrou que longo é o braço da solidariedade.
- Ao pessoal das rádios que manteve a população informada e manteve a esperança de quem estava isolado em casa.
- Aos estudantes que emprestaram seus físicos para carregar e descarregar caminhões nos centros de triagem.
- Às pessoas que cozinharam para milhares de estranhos.
- Ao empresário que não se identificou e entregou mais de mil marmitex no centro de triagem.
- A todos que doaram nem que seja uma peça de roupa.
- A todos que serviram nem que seja um copo de água a quem precisou.
- A todos que oraram por todos.
- Ao Brasil todo, que chorou nossos mortos e nossas perdas.
- Aos novos amigos que fiz no centro de triagem, na segunda-feira.
- A todos aqueles que me ligaram preocupados com a gente.
- A todos aqueles que ainda se preocupam por alguém.
- A todos aqueles que fizeram algo, mas eu não soube ou esqueci.

Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina um anônimo escreveu isto:

COMEÇAR DE NOVO

Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus
Vamos começar de novo.
É hora de recomeçar, e talvez seja hora de recomeçar não só materialmente. Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar e de crescer como ser humano.
Pelo menos é a minha hora, acredito.
Que Deus abençoe a todos.
( procura-se o autor)

dezembro 01, 2008

Da Série "Especial para www.giorgiavasconcellos.com.br "

Natal : O Nascimento do Consumo?


Que vivemos em uma sociedade consumista não se contesta. Que gostamos cada dia mais de consumir também não. E nem que o consumo deixou de representar apenas a aquisição de um bem. Comprar, hoje, é um verbo relacionado com conquista, vitória, status, compulsão, doença e terapia. A aproximação do Natal, então, parece exaltar até mesmo os ânimos mais contidos para o consumo. E os meios de comunicação acabam por tornar a resistência ao cartão de crédito quase impossível. Que o digam os pais...

Fico imaginando o que se passa na cabecinha das crianças quando vidram os seus olhinhos na propaganda da nova boneca que fala e memoriza o nome escolhido pela nova “mamãe”. E os lançamentos da Barbie? Quando finalmente compramos a “Barbie Magia do Arco-Íris”, a televisão já mostra, em um cenário de sonhos a “Barbie Castelo de Diamantes”...E todas elas têm o seu cavalo mágico, as suas amigas inseparáveis, o seu castelo indispensável, e a sua versão míni, maxi, falante, dançante, iluminada...Enfim, aquela que a sua filha sempre sonhou e não pode viver sem – pelo menos até os próximos dois dias.

Assistir aos canais de programação infantil é como assistir a um canal de compras específico, direcionado e, temos que concordar, fascinante. Como leiga em assuntos de marketing e publicidade, só posso afirmar que os responsáveis pelas vendas destes produtos estão cada vez melhores...

E aqui, do outro lado da tela, nós, mães e pais, muitas vezes também fascinados com o novo lançamento do “Hot Wheels”, com o “Circo Mágico do Backyardigans” e com a “Amazing Ananda” – só os pais e mães entenderão o que quero dizer – precisamos conter o consumismo desenfreado dos nossos pequenos e mostrá-los o verdadeiro sentido do Natal. Mas será que nós sabemos o verdadeiro sentido? Será que também não nos deixamos encantar pelas luzes e músicas desta época do ano e, principalmente, pelas maravilhas que o mundo consumista nos põe a disposição em 10 vezes sem juros no cartão, com frete grátis?

O fato é que, falo por mim, comprar o presente desejado pelos nossos filhos nos enche de contentamento. Será que pela felicidade de ver os olhinhos brilhando e o sorriso no rosto ou pela sensação de amenizar a culpa por não sermos tão presentes como gostaríamos? Talvez tudo isso junto, como reflexo de uma vida moderna e de uma mudança no panorama e na estrutura familiar que distancia fisicamente os filhos dos pais e, principalmente, das mães, que já foram presença fixa e contínua no lar.

E assim, continuamos consumindo, desenfreadamente ou não, racionalmente ou não, com crise ou sem crise, com Obama ou sem Obama, felizmente...Ou não.