Novidades culinárias nem sempre me agradam. Meu paladar é, ainda, de criança. Pipoca, brigadeiro, macarrão, pizza, banana. Troco fácil, fácil um cordeiro ao molho de ervas por um queijo-quente. Mas, como tudo muda (graças a Deus), às vezes me habituo a um novo sabor. Bom, foi assim com a comida japonesa. Quando o mundo todo começou a enjoar, eu resolvi experimentar. E gostei. Gostei muito, para dizer a verdade. E, então, como acontece com toda (ou quase toda) comida que vira moda, criaram o rodízio de comida japonesa. Não me parece nem um pouco herança da cultura japonesa, mas a ideia é bastante sedutora. Está tudo à disposição, por um único preço. Basta pedir. E comer. E foi aí que a coisa me pareceu ainda mais interessante.
Ao contrário do que acontece em outras espécies de rodízio, no de comida japonesa, o que você pedir e não comer, tem que pagar. Nunca pensei em tamanha sensatez. Me lembrei de todas as vezes em que vi pratos e pratos de carne intocadas ou de pizzas das quais apenas uma mordida foi dada indo para o lixo em infindáveis rodízios. Aquele pensamento de uma cultura atrasada que leva ao terrível argumento de que "se eu paguei, é meu. Eu tenho direito, nem que seja para jogar fora."
No rodízio de comida japonesa não. Pede-se o quanto quiser, mas nenhum exagero ou desperdício. Se não comer, tem que pagar. Ou seja, o preço continua único, come-se o quanto quiser ou puder, mas nenhum pedido é feito sem que o bom-senso de cada um seja ativado. Completamente diferente. Sensato. Está à sua disposição, mas você deve pegar o quanto precisa, nem mais, nem menos.
Assim, penso eu, poderia ter agido Deus ao criar o mundo. Deveria ter deixado tudo à disposição do ser humano, mas só poderíamos usufruir daquilo que realmente fosse necessário. Se houvesse desperdício ou o uso errado do que estivesse a nossa disposição, pagaríamos o preço. Enfim, poderíamos ter tudo, mas somente o tudo que nos fosse necessário. Se pedíssemos a mais, arcaríamos com as consequencias. Ele estaria ali, pronto para ouvir os nossos pedidos e providenciá-los da melhor forma possível, mas deveríamos saber pedir, ativar o bom-senso, pensar no antes, no durante e no depois. Pediríamos com cautela, pois, apesar de todos termos pago um valor único por tudo aquilo, algumas contas seriam acertadas somente no final, quando o jantar - ou a vida - tivessem chegado ao fim.
Pensando melhor, acho que foi exatamente assim que ele agiu. E age. Está tudo aqui, aí, a nossa disposição. O preço único por tudo isso já foi pago. Podemos e devemos pedir. Talvez a nossa grande dificuldade seja exatamente descobrir o que é, de fato, necessário e o que será desperdiçado.
Se Deus é sensato - e é no que eu acredito - age exatamente como no rodízio de comida japonesa. A intenção não é punir, é simplesmente equilibrar, permitir que as coisas aconteçam da melhor forma possível, sem sacrifícios, sem exageros, sem desperdícios.
Saber o que pedir, quando pedir e quanto pedir. Talvez seja esse o segredo. Ele não hesitará em conceder, mas, a conta, no final, será de nossa responsabilidade...
julho 23, 2011
julho 13, 2011
Desconfiança.
Interessante o ser humano. E sórdido, muitas vezes. Falamos de forma tão natural sobre o perdão mas não sabemos como agir quando precisamos perdoar. É claro, estou falando dos erros dos outros porque os nossos erros são extremamente "perdoáveis", afinal, nunca fazemos por mal. Nunca erramos para machucar alguém ou para espalhar o mal, semear a discórdia, criar conflitos. Nós não. Os outros sim. Os erros dos outros são sempre piores. Claro, os outros não são tão bem intencionados como nós, assim, como que por óbvio, é tão mais fácil perdoar-nos. Se estivéssemos na pele dos outros, nos perdoaríamos facilmente. Afinal, nunca são graves assim os nossos erros.
Os erros dos outros, ao contrário, merecem uma (des)atenção maior. Será que é verdadeiramente possível perdoar os outros por completo? Eu achava que sim. Passei a desconfiar. Aliás, hoje, tenho quase certeza de que o perdão só existe para os nossos erros. Falo de perdão sincero, pleno. Porque o perdão superficial, aquele que aparece mas guarda com ele os erros cometidos, acho até que é fácil conceder. Esse perdão fácil permite a convivência, mas impossibilita a entrega. Perdoando assim, estamos sempre desconfiando, vigiando, acusando, perseguindo, humilhando, massacrando, machucando. Só assim nos sentimos resguardados de verdade para convivermos com quem errou. Afinal, não podemos permitir que o erro aconteça de novo. E de novo, e de novo. Nos preocupamos tanto com a possibilidade do erro voltar a acontecer (e com razão, afinal, foi um erro) que esquecemos de viver. O perdão fácil mata o amor, mata a amizade, aniquila a alegria da convivência, sufoca os sentimentos mais bonitos. Mata porque domina. Mata porque segura. Mata porque desconfia. Mata.
O erro também mata, certamente. Mata a confiança, mata a cumplicidade. Mata o amor? Não sei. Mas começo a desconfiar que sim. Uma leve desconfiança, até porque não conheço alguém que errou apenas poucas vezes na vida. Se vivemos, erramos. Se vivemos, convivemos com erros. Os nossos e os dos outros. Assim, se o erro matasse o amor, não amaríamos mais. Sequer seríamos amados.
Como não queremos deixar de amar e nem de sermos amados, não podemos permitir, então, que o erro mate o amor? Talvez a solução seja uma vida sem erros. Uma solução digna, perfeita. Mas matematicamente impossível. Conclusão exata, a única sem margem de erro. Não errar é impossível. Se conviver com o erro não é uma opção, permaneço com a dúvida: Perdoamos e amamos ou vivemos e matamos o amor?
Quando o erro é nosso, a escolha parece certa: Perdoamos e amamos. Quando o erro é dos outros, tendemos a matar o amor. Matar o amor é mais fácil e menos dolorido. Afinal, podem existir outros amores para substituir aquele que foi assassinado. Perdoar é, de longe, o mais difícil. Mais nobre, talvez, mas infinitamente mais difícil. Até porque AMAR é difícil. Tão difícil que acaba me levando, também, à desconfiança do próprio amor. Sim, porque se o perdão fácil e superficial mata o amor, então o amor não supera tudo. Supera tudo menos o erro? Então não podemos dizer que supera, porque não existe vida sem erro. Mas existe vida sem amor?
Bom, se existe, não é a que desejo. Não é a que eu posso viver. Não é a que eu escolhi viver. Eu escolhi viver com amor, por amor. Não foi a escolha mais fácil, mas foi a minha. A escolha na qual eu acredito. Sem desconfiança.
Os erros dos outros, ao contrário, merecem uma (des)atenção maior. Será que é verdadeiramente possível perdoar os outros por completo? Eu achava que sim. Passei a desconfiar. Aliás, hoje, tenho quase certeza de que o perdão só existe para os nossos erros. Falo de perdão sincero, pleno. Porque o perdão superficial, aquele que aparece mas guarda com ele os erros cometidos, acho até que é fácil conceder. Esse perdão fácil permite a convivência, mas impossibilita a entrega. Perdoando assim, estamos sempre desconfiando, vigiando, acusando, perseguindo, humilhando, massacrando, machucando. Só assim nos sentimos resguardados de verdade para convivermos com quem errou. Afinal, não podemos permitir que o erro aconteça de novo. E de novo, e de novo. Nos preocupamos tanto com a possibilidade do erro voltar a acontecer (e com razão, afinal, foi um erro) que esquecemos de viver. O perdão fácil mata o amor, mata a amizade, aniquila a alegria da convivência, sufoca os sentimentos mais bonitos. Mata porque domina. Mata porque segura. Mata porque desconfia. Mata.
O erro também mata, certamente. Mata a confiança, mata a cumplicidade. Mata o amor? Não sei. Mas começo a desconfiar que sim. Uma leve desconfiança, até porque não conheço alguém que errou apenas poucas vezes na vida. Se vivemos, erramos. Se vivemos, convivemos com erros. Os nossos e os dos outros. Assim, se o erro matasse o amor, não amaríamos mais. Sequer seríamos amados.
Como não queremos deixar de amar e nem de sermos amados, não podemos permitir, então, que o erro mate o amor? Talvez a solução seja uma vida sem erros. Uma solução digna, perfeita. Mas matematicamente impossível. Conclusão exata, a única sem margem de erro. Não errar é impossível. Se conviver com o erro não é uma opção, permaneço com a dúvida: Perdoamos e amamos ou vivemos e matamos o amor?
Quando o erro é nosso, a escolha parece certa: Perdoamos e amamos. Quando o erro é dos outros, tendemos a matar o amor. Matar o amor é mais fácil e menos dolorido. Afinal, podem existir outros amores para substituir aquele que foi assassinado. Perdoar é, de longe, o mais difícil. Mais nobre, talvez, mas infinitamente mais difícil. Até porque AMAR é difícil. Tão difícil que acaba me levando, também, à desconfiança do próprio amor. Sim, porque se o perdão fácil e superficial mata o amor, então o amor não supera tudo. Supera tudo menos o erro? Então não podemos dizer que supera, porque não existe vida sem erro. Mas existe vida sem amor?
Bom, se existe, não é a que desejo. Não é a que eu posso viver. Não é a que eu escolhi viver. Eu escolhi viver com amor, por amor. Não foi a escolha mais fácil, mas foi a minha. A escolha na qual eu acredito. Sem desconfiança.
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