Uma figura mansa, mas firme. Uma figura que inventava apelidos e fumava Charm. Que usava suéter azul marinho com gola V e cantarolava Beth Carvalho. Que brincava com a mesma facilidade que falava sério e tratava minha mãe com uma delicadeza e um amor que eu não saberia dizer que vi em outro casal. Generoso, espirituoso, grisalho desde muito cedo. Um jogador de baralho que eu nunca vi perder. Só o Flamengo lhe tirava a calma. Uma letra linda, que enfeitou as capas dos meus cadernos até a segunda série. Comprou um vídeo cassete quando grande parte dos aparelhos de TV ainda eram em preto e branco. Fez do vídeo game um companheiro para a solidão da doença que o consumiu. Nem doente parecia triste. Já em sua última vez no hospital, recebeu a mim e ao meu irmão com bombons.
Uma figura que me ensinou a paciência. No baralho e na vida. Me ensinou que a maioria dos problemas da vida se resolve com boa-vontade e bom-humor. Me ensinou que a vida pode ser leve, que sorrisos e gentileza transformam o ser-humano. Me ensinou que precisamos cultivar o que nos faz bem. Me ensinou a oração de São Francisco, que, até hoje, me conforta. Me ensinou que, às vezes, não há nada o que fazer, a não ser aceitar. E que, mesmo nessas horas, a gente ainda tem muito o que agradecer.
Um comentário:
Ownnnnn que texto tao bonitinho! Nao lembrava que tu eras tao pequenininha qd ele se foi, Rê :-( Só lembro da roupa azul e do cabelo liso do desenho.
sei como é sentir falta de pai, é uma dor estranha ne? falta sempre alguma coisa, que a gente nao sabe ao certo definir...a mae qd falta, a gente sabe exatamente o porquê e aonde, mas pai,é uma falta que nao faz mt sentido. sei lá, pra mim é assim. falta de algo que nao sabemos exatamente o que é.
um bj pra ti e pras tuas filhas que devem estar enoorrrrmessss
Postar um comentário