outubro 21, 2016

Ele.

Ele conversa com a televisão. Emite opiniões, briga, concorda, se revolta. Mas também conversa comigo como poucos homens se dispõe a fazer.

Ele perde a paciência com o controle remoto, mas perde ainda mais diante de uma injustiça lançada às suas filhas.

Ele acha um absurdo eu comprar outra bolsa de mão, mas adora me dar uma de presente.

Ele morre de rir das Pegadinhas do Faustão, eu não acho graça. Mas a gente morre de rir, juntos, assistindo ao Bob Esponja.

Ele assiste Walkind Dead sozinho e com fones de ouvido, mas me espera para todos os episódios de Modern Family.

Ele briga comigo quando eu tropeço na rua, diz que eu ando “olhando pra cima”, mas é o primeiro a segurar a minha mão.

Ele reclama que ando devagar por causa do salto alto, mas dá uma volta enorme com o carro só para me deixar na porta do escritório.

Ele aprendeu a tomar café sem adoçar comigo, mas me ensinou a usar o certificado digital.

Ele não gosta de esperar, mas faz um curativo minucioso como ninguém.

Ele critica as músicas que gosto, mas as cantarola durante todo o dia.

Ele gosta de carne, mas faz um risoto maravilhoso, porque a gente adora.

Ele fala muito, mas faz ainda mais.


Ele reclama que eu falo pouco, não me expresso. Mas ele não sabe que o que eu sinto é tão grande, que, muitas vezes, nem sobra lugar para muitas palavras.

outubro 18, 2016

Reciclagem no meio da tarde de terça-feira.

E daí que no meio da tarde, diante de, pelo menos, cinco arquivos abertos que aguardam, ansiosamente, serem finalizados, olho para baixo da mesa do escritório e enxergo, na lixeira, alguns papéis amassados. Por um momento, me pergunto: O que foi mesmo que joguei fora?

É que às vezes, no afã de enxergar uma mesa organizada, a gente acaba jogando fora um papel importante.  Em outras vezes, até reconhecemos a insignificância do bendito papelzinho naquele momento, e, dias mais tarde, nos deparamos com a sua necessidade. Amaldiçoamos o momento da decisão do descarte. Mas, na grande maioria das vezes, já foi. Não tem mais jeito. Afinal, o que foi descartado tem destino também. Não é certo, mas é um destino.

Naquela história de que o mundo dá voltas (algumas que aguardo ansiosa como os arquivos abertos no meu computador), quem sabe o papelzinho não volte para as nossas próprias mãos, cheio de status, como um bloquinho reciclado? Assim mesmo, quase que olhando de cima para baixo e dizendo: Viu? Ou quem sabe vire uma obra de arte, um caderno de criança, um enfeite de Natal?


Eles estão aqui ainda, na lixeira da minha sala. Mas já imaginei para eles um monte de desfechos diferentes. E quando penso assim, acabo me apegando. Apego a papeizinhos amassados jogados na lixeira? É...Preciso parar de olhar para baixo enquanto trabalho...

setembro 20, 2016

A Ganache do Le Manjue.

Em tempos de "Desculpe o transtorno, preciso falar de Clarisse", peço licença aos descolados (ainda se pode utilizar essa palavra?) e orgânicos paulistanos para falar da Ganache do Le Manjue. Não, eu não fui ao restaurante, queridinho da geração gluten-lac-free. Mas ganhei a famosa Ganache de presente. Confesso que sou totalmente influenciável pela mídia, blogs,vlogs e toda sorte de afins, e muitas vezes até por rótulo de sabonete. Alvo fácil para os publicitários. Daquele tipo que sente sono quando a descrição do sabonete diz "sensação relaxante", que abre um sorriso diante das palavras "sinta o frescor da manhã" e que se sente instantaneamente mais magra e completamente desintoxicada depois de espremer um limão na água pela manhã.

Sim, eu já tornei a tapioca meu jantar de muitos dias por causa da Gabriela Pugliesi. Já fiz Jejum por causa da Laura Nesteruk, já fiz pão de oleaginosas por causa da Lilian Sá. Já fiz bala de chá de hibisco por influência dos meninos do Frango com Batata Doce, já desejei um óculos por causa da Cris Guerra e uma calça horrorosa que vi com a Thassia Naves. Já comprei um tênis por indicação da Paula Narvaez e uma paleta de contorno por causa de um tutorial da Camila Coelho. E, como dez entre dez modelos de vida saudável que nunca desejam um bom bife à milanesa, desejei a bendita Ganache do Le Manjue. 

Antes mesmo de colocá-la na boca,pensei em fazer uma foto para o Instagram ou até um vídeo para o Snapchat. Eu colocaria um filtro, um emoji, um textinho. Já tinha ensaiado algumas legendas e hashtags. Algo como: "Já pode querer para sempre?", "#vidasaudavel", "#essapode", #nopainnogain (essa é terrível!). Resolvi, na contramão, experimentar primeiro. Não que seja ruim, longe disso. Só não consegui entender o estardalhaço. Minha bananinha no microondas com canela e pasta de amendoim dá de dez a zero. O bolinho de caneca de cacau da Adelaide também. E dá  para fazer com biomassa de banana verde, inclusive. 

Bom, mas o que seria da nossa vida sem os "digital influencers", sem as hashtags da moda, sem a melhor dica de todos os tempos dos próximos cinco minutos? Sigo me perguntando, enquanto desejo, agora, um brownie funcional do Club Life To Go, um salada de quinoa do Frutaria São Paulo, um corte de cabelo com a BruFabricio, uma aula de dança com o Justin Neto, uma consulta com o Dr, Barakat e um fim de semana no Kenoa Resort, de onde eu certamente postaria uma foto #kenoalovers.