julho 14, 2014

O que a minha filha aprendeu com a Copa do Mundo.

Sem que eu fizesse qualquer esforço, minha filha mais nova tornou-se uma apaixonada pela Copa do Mundo.  Como em tantos outros casos, não se trata de paixão pelo futebol, como costumam atribuir a todo brasileiro. Mas paixão pela Copa do Mundo. Paixão por ver tanta gente envolvida em torno de um objetivo. Tanta festa, tanto motivo pra juntar todo mundo, pra celebrar, pra preparar. A gente acaba concordando que o melhor da festa é esperar por ela.

Tentar completar o álbum de figurinhas, conhecer o nome dos jogadores, conhecer os países, descobrir de qual deles são os maiores craques. Foi com o álbum que ela descobriu que língua se fala na Croácia. Foi através dele que ela se interessou por saber se Portugal de Cristiano Ronaldo ficava perto da Holanda de Robben.  Descobriu que Brasil se escreve com Z em inglês e que quais são as cores da bandeira da França.

Aprendeu a fazer conta para trocar as figurinhas repetidas. Aprendeu até sobre a lei da oferta e da procura quando decidiu pagar cinco reais pela rara W1, que custaria apenas vinte centavos em condições normais.  Aprendeu que temos que confiar nas pessoas, mas é preciso vigiar as suas figurinhas porque nem todo mundo pensa e age como a gente. Aprendeu que não importa quanto tempo você passe no troca-troca de figurinhas dos domingos de manhã na banca de revistas, às vezes a gente não acha a figurinha que falta para completar a seleção brasileira.

Vestiu a camisa do Brasil, conscientemente e por vontade própria, pela primeira vez no jogo contra a Croácia. Aprendeu quantos minutos tem em cada tempo do jogo. Aprendeu que não é certo conseguir as coisas com a força e que isso pode levar a um cartão amarelo. No jogo e na vida. Aprendeu sobre falta, escanteio e intervalo.

No jogo contra o México, aprendeu a ter paciência. Entendeu que, por mais que a gente tente, às vezes,  não é o dia. Mas que tem que continuar tentando.  No jogo contra Camarões, aprendeu com a irmã que até de uma comemoração a gente pode sair machucado. Com o Chile, aprendeu que não se pode “cantar” a vitória antes do tempo e que muitas vezes a gente passa muito aperto para conseguir o que quer.

Começou o jogo contra a Colômbia odiando o prodígio James Rodriguez. Terminou nem lembrando quem ele era, por conta de um outro colombiano cujo joelho encontrou a vértebra do nosso camisa 10. Aprendeu, assim, que tudo muda, às vezes, de um minuto para o outro. Aprendeu que qualquer um pode errar. Até o capitão-ídolo Thiago Silva. E que a gente deve  pagar pelos nossos erros.

No jogo contra a  Alemanha ela aprendeu a sofrer. Talvez tenha aprendido ali o sentido da palavra decepção. Chorou, reclamou, perdeu as esperanças depois do terceiro gol. Viu de perto o que é desistir. Mas aprendeu também que uma vitória precisa de muito mais do que torcida e vontade. Precisa de preparo, de estudo, de treino. Precisa de suor e às vezes até de dor. Precisa de um caminho, de orientação. Precisa de calma, precisa de equilíbrio. Precisa de ajuda, cooperação, integração.

Aprendeu que nem sorrisos e nem lágrimas ganham jogo.

Aprendeu que a sorte pode acordar com um lado ou com o outro, mas não faz quase nada sozinha.

Aprendeu, ainda, que, por mais que se perca,  a gente deve continuar sonhando com a Vitória. E, principalmente, que a gente pode ganhar de maneiras diferentes, independentemente do placar final.



2 comentários:

Anônimo disse...

Rê, adoro seus textos! Parabéns por mais este. Vivenciei o mesmo aqui com meu mais velho. Muito bom viver com eles isso tudo, nao é? Beijos, Flá.

Luma Rosa disse...

Wow!!! Precisava vir aqui e mudar o meu olhar sobre a Copa. Quanta sabedoria retirada e quanto aprendizado!!
:)
Boa semana!!
Beijus,