março 26, 2009

Quando eu era televisão.

Tenho mania de inventar histórias. Na verdade, para mim, continuarão a ser estórias, mas os nossos gramáticos parecem não gostar da diferença. Histórias ou Estórias, tenho mania de criar enredos e personagens para as minhas pequenas. A Princesa Prateada, O Sapatinho que queria tocar piano, o Gatinho que gostava de beber leite e, atualmente, as minhas favoritas: As aventuras das Princesas Lalá e Lili.

Em meio àquela quase-escuridão, olhinhos brilhantes esperam ansiosos o fim de cada aventura. Sempre um final feliz. É uma hora para sonharmos acordadas mesmo, com direito a fadas, arco-íris, florestas encantadas e objetos que falam.

Confesso que muitas vezes elas pedem que eu repita a história e eu já nem sei mais o que faz parte dela. Não importa. Invento outra. Outras. Assim como Sherazade, que ficou 1001 noites contando histórias para evitar a sua morte, mas, no meu caso, para celebrar a vida.

O engraçado disso tudo foi que ontem, após mais uma das aventuras das Princesas Lalá e Lili, Elisa, que acompanhava tudo sem sequer piscar, me perguntou:

"- Mamãe, aonde você ouviu essa história?"

Eu respondi que eu mesma a tinha inventado, ao que ela retrucou, imediatamente:

"- Ah, sei, quando você era televisão, né?"

Pois é. Quando eu era televisão. Tão simples e tão fácil. Gostei da ideia de ter sido uma televisão um dia. Melhor do que ser um liquidificador, uma batedeira ou um aspirador de pó, não?

março 12, 2009

O Nome da Rosa

Acho lindo este título. Para ser sincera, não me lembro do filme, que assisti quando ainda cursava o ensino fundamental ou médio, não sei, e não cheguei a ler o livro. Mas eu soube que a expressão era utilizada na Idade Média para denotar o INFINITO PODER DAS PALAVRAS. Acabei gostando ainda mais do título. Me faz pensar no poder das palavras e no próprio poder do nome.

Sempre tive orgulho do meu nome, porque minha mãe diz que foi escolhido pelo meu pai. Acho que o nome pode sim, dizer algo da personalidade das pessoas. Quando escolhemos o nome de nossas pequenas, pensamos muito nisso. Aliás, o meu padrinho, Geraldo, me disse uma vez que o Espírito Santo de Deus é quem sopra o nome no ouvido dos pais. E sempre acreditamos que o nome é, talvez, a primeira benção que os pais dão a seus filhos, depois da vida.

Laura e Elisa. Apesar das dúvidas que rondam a cabeça de qualquer pai e mãe, são nomes que me encantaram desde o início e que me emocionam e me alegram até hoje. Até sempre, espero. Pela sonoridade, pela simplicidade de pelo significado. Laura, uma coroa de louros. Elisa, uma mulher de Deus.

Hoje, pela manhã, ao perguntar para uma amiga grávida sobre a menininha que ela espera para maio, usei o nome escolhido por ela. Elis. “E a Elis, como está?”. Não sei porquê, mas notei uma certa reticência em sua resposta. Não pelo bebê, é claro, mas pelo nome. Na hora, me lembrei da preocupação que temos na hora de escolher. Ela vai gostar quando crescer? Vai ser fácil de escrever e pronunciar? O que as pessoas acham? Vai parecer com ela? Isso tudo passou pela minha cabeça também, por duas vezes...

Mas hoje, tenho certeza de que nossas escolhas foram acertadas. Na verdade, o nome já está escolhido, antes mesmo de termos essa certeza. O amor já é tão grande, que a escolha do “rótulo” acaba sendo apenas mais um aspecto, não o mais importante. E aí, quando nos deparamos com aquele rostinho, temos a certeza de que era aquele mesmo. Era aquele e não podia ser outro. Como pudemos ter dúvidas? Como pudemos pensar em outro? Não, não. É a cara dela. Não podia ser outro o nome da rosa. O nome da rosa que perfumará o nosso jardim para a vida toda. Laura e Elisa são as minhas rosas. Elis também será a da mãe dela, assim como Clara já o é. Lindas, perfumadas, encantadoras. Como toda rosa tem que ser.

março 08, 2009

Caligrafia

Em tempos de linguagem virtual, reformas gramaticais, internetês, e outras coisas mais, a antiga caligrafia continua existindo nas escolas do Brasil. Os temidos cadernos de caligrafia continuam lá, famintos, esperando pelo grandioso número e repetitivo conteúdo que os completará até oi final do ano.

Não digo que acho arcaico, tampouco desnecessário. Precisamos reaprender a escrever e a tomar gosto por isso, não tenho dúvida. Apesar da distância que cresce a cada dia entre pessoas e canetas, ainda acho que essa habilidade precisa ser estimulada. Ainda que depois a linda letra redonda e desenhada seja substituída por frenéticos toques no teclado do computador ou do blackberry. Todos iguais.

Mas a caligrafia da primeira série (hoje segundo ano do ensino fundamental, porque as coisas precisam mudar...)me fez pensar um pouco nisso. Enquanto Laura desenhava o J, o G, o Z, tentando observar todos os limites impostos pelo caderno de caligrafia, eu pensava em quão desnecessário isso tudo pode ser. Tempo perdido? Esforço desnecessário? Afinal, daqui a alguns anos, ela precisará de papel? De caneta? De letra bonita? Alguém, em algum lugar do mundo, usa todo aquele espaço para uma letra G? E para um P?

O caderno veio para casa para que ela corrigisse as letras que não observaram meticulosamente o limite da linha. Nada a mais. Nada a menos. E eu insisti para que ela refizesse tudo, com o maior cuidado. Não porque queira a sua letra redonda ou perfeita como o modelo no início da linha. Mas porque pensei, na hora, que todo esse esforço pudesse ser uma forma de mostrá-la um limite, dizê-la, pelo menos por hora: "Filha, e só até aqui que você pode ir, se ultrapassar essa margem, não fica certo...". Talvez a vontade fosse que a vida dela fosse como aquele caderno. Cheio de linhas objetivamente colocadas, que mostrassem o que é certo e o que é errado. E eu podendo acompanhar cada traço. E usar a borracha. E acompanhá-la refazendo.

A vida delas não é um caderno, eu não posso colocar as linhas divisórias e acompanhar cada erro. Mas, então, penso que, quando a criança deixa de usar o caderno de caligrafia, ela continua escrevendo, por si. Ela continua lembrando que algo precisa ir mais para cima ou mais para baixo. Ela percebe quando fica ilegível e quando tem que refazer para se fazer entender. Assim como na vida. Agora, ensinamos. Mais tarde, acompanhamos erros e acertos, sempre torcendo. Caligrafia e Pais. Ninguém escreve ou vive naquele limite para sempre. Ainda bem que existe, no caderno ou na vida, uma margem de segurança.