Era cedo ainda. Não tanto, mas cedo. As crianças já estavam
na escola. Em uma cidade quente, o dia amanhecer branco é um acontecimento. Um
friozinho bom, que, assim como tudo na vida, é relativo. Quando viro a primeira
esquina, vejo que, lá em cima, ela continua brilhando. Como se não quisesse ir
embora. Como se quisesse continuar observando o que nós, aqui, tão pequeninhos,
fazemos durante o dia. Não sei se foi o sol quem permitiu, ou se ela sequer
pediu permissão. Se foi um acordo ou uma briga de gigantes. Mas o fato é que
ela ainda estava lá.
Me lembrei de quando as meninas eram menores e em uma noite
estrelada, voltando para casa de carro, uma delas me perguntou:
- Mãe, por que a lua está seguindo a gente?
Eu respondi:
- Porque vocês são maravilhosas e ela quer levá-las até em
casa, para ter certeza de que vocês chegaram bem e vão ter uma noite muito tranqüila.
Não houve réplica. Apenas dois sorrisos vistos pelo
retrovisor. Sorrisos de segurança, de calma.
A mais nova chegou a ter medo de fazer alguma coisa errada
em outras ocasiões e perder aquela companhia tão linda.
E hoje ela ficou até de manhã. Não consegui mostrá-las, mas,
certamente, vou ignorar novamente qualquer traço científico, movimentos de
translação e rotação e dizer que ela estava ali, e isso continua a significar
uma proteção e um carinho que vem do céu só pra elas.
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