Querida vida,
Agora vamos falar francamente. Sem clichês e sem lentes.
Sejam elas de aumento ou redução. Acho que precisamos de um acerto de contas. E
essa conversa já era para ter acontecido há muito tempo. Tempo que falta. Ou
coragem que falta. Sim, Vida, coragem. Sabe por quê? Porque você sabe ser cruel
quando quer. Você sabe exatamente aonde me pegar, aonde me atingir. E essa
crueldade muitas vezes me faz recuar e deixar a conversa pra depois. Mas, uma
hora, a gente tinha que se encarar. Eu e você. Uma hora a gente precisaria
dizer, uma pra outra, tudo aquilo que ficou esquecido ou escondido por todos
esses anos.
Eu sei, eu sei que muitas vezes não te tratei bem. Pensei em
você como se fosse um dia apenas. Achei que pudesse fazer o que bem entendia
com você e você não me cobraria. Ou pelo menos não me cobraria tão cedo. Também
não posso negar que você foi muito boa comigo em grande parte desse tempo todo.
Ah, Vida, mas eu também fiz por você, né? Tantas vezes te poupei, mesmo diante
das minhas vontades tão diferentes. Fui negligente algumas vezes, mas posso
dizer o mesmo de você. Fui impaciente, inoportuna, descrente, até. Mas, tantas
outras vezes, acreditei demais em você. Acreditei demais na sua bondade, na sua
cumplicidade. Acreditei que estivéssemos no mesmo barco e, na hora da
tempestade, me vi sozinha. Talvez você estivesse apenas atrás de mim, longe do
meu campo de visão. Mas o sentimento foi de solidão. E, às vezes, Vida, o que
fica é o sentimento, e não a realidade.
E não me venha com essa de que estava “tentando me dar uma
lição”. Aliás, Vida, você e o Sr. Tempo – que qualquer dia também vai receber
uma cartinha – vivem propagando aos quatro tempos as suas habilidades didáticas
e terapêuticas, mas nem sempre conseguem ser objetivos o bastante para ensinar
de verdade. Você também tem muito o que aprender. Todos nós temos. Esse ar
superior de intelectual experiente já deu, Vida. Tanta coisa nova e
interessante para aprendermos juntas e você aí, me olhando de cima, como se eu
fosse a pior aluna de todos os tempos. Eu sei que não sou, Vida! Pode descer do
palco e se juntar à plateia. Pode segurar na minha mão e deixar que eu também
segure a sua. Não tem problema se o medo, a insegurança, a monotonia ou o
cansaço aparecerem. Juntas, fica mais fácil vencê-los.
Sim, juntas. Eu te perdôo, Vida. E também peço seu perdão. Pode
vir que a gente se entende no caminho.
Um beijo grande,
Renata.
3 comentários:
Lindo! Essa VIDA nos prega peças mesmo! Te amo amiga! Bjo Bjo!
oh menina querida, que escreve que nem estivesse usando uma flor como caneta, sei la, td tao extremamente delicado, ate mesmo qd briga com a vida :-)
Rê querida!saudade de tu.
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