Sou consumista assumida. Uma blusinha nova sempre foi capaz
de mudar o meu humor. Um perfume novo, então, nem se fala. Aí a gente se depara
com uma vontade quase incontrolável de comprar um batom vermelho de edição
limitada sem o qual não podemos mais viver. Aí a gente olha os outros -muitos- batons
vermelhos que já tem e percebe que não tem diferença. Nenhuma. O novo
batom-desejo é extremamente parecido (não vou dizer igual em respeito à vaidade
feminina) com os outros dezoito que estão na penteadeira. O batom vermelho novo
é exatamente o caso daquele perfume lançado no verão passado que foi usado umas
três vezes e agora está lá, esquecido. Esquecido, não. Abandonado. Mesmo tendo
custado o equivalente a meio salário mínimo. E também daquele sapato azul que
era lindo de morrer na loja mas que não conseguiu conversar direito com nenhuma
das roupas do closet. E da bolsa off-white que manchou na primeira vez em que
foi usada com uma calça jeans. E dos maxi-brincos cortados a laser –seja lá o
que isso significa – que seriam necessários naquela viagem que nunca foi feita. E da máscara de caviar com ácido salicílico
que o rosto nunca viu, afinal, não é fácil lavar o rosto com soro fisiológico,
depois com água morna, passar a tal máscara e esperar quarenta minutos para
depois retirar com água de côco fresca.
Precisaria ser uma maquiadora profissional chamada para
todas as semanas de moda do ano para conseguir usar todas as sombras adquiridas
nos últimos anos. Acho que nem assim. Em nenhuma semana de moda do universo eu
usaria uma sombra vermelha com glitter. Sim, eu tenho uma sombra vermelha com
glitter. E também um blush lilás e um pó bronzeador que nem depois de dois
meses de céu aberto em
Saint Tropez ele se adequaria à minha pele. E uma camiseta
preta cheia de lacinhos que nem imagino como poderia ser usada. E tantas outras
coisas. Tantas.
Coisa de mulher? Talvez. Mas acho que a minha porção
masculina tem se pronunciado mais nos últimos tempos. Deixar de desejar tantas
coisas? Acho que nem se eu nascesse de novo. Será que é a fase da lua? Os
protestos nas ruas? Maturidade? Disciplina? Recessão? Sei não. Nem sobre a
sombra vermelha com glitter eu tenho certeza. Afinal, vai que vira moda no
inverno 2014 da Chanel? A única certeza nisso tudo é a de que o tal bronzer, de
fato, não fica bem em mim. Mas
bem que eu podia tentar usá-lo como sombra... ;-)
Um comentário:
Como sempre, um excelente texto!
Adoro suas reflexões e o modo como escreve!
Beijo, amiga!
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