julho 10, 2013

As coisas e a vontade das coisas.



Sou consumista assumida. Uma blusinha nova sempre foi capaz de mudar o meu humor. Um perfume novo, então, nem se fala. Aí a gente se depara com uma vontade quase incontrolável de comprar um batom vermelho de edição limitada sem o qual não podemos mais viver. Aí a gente olha os outros -muitos- batons vermelhos que já tem e percebe que não tem diferença. Nenhuma. O novo batom-desejo é extremamente parecido (não vou dizer igual em respeito à vaidade feminina) com os outros dezoito que estão na penteadeira. O batom vermelho novo é exatamente o caso daquele perfume lançado no verão passado que foi usado umas três vezes e agora está lá, esquecido. Esquecido, não. Abandonado. Mesmo tendo custado o equivalente a meio salário mínimo. E também daquele sapato azul que era lindo de morrer na loja mas que não conseguiu conversar direito com nenhuma das roupas do closet. E da bolsa off-white que manchou na primeira vez em que foi usada com uma calça jeans. E dos maxi-brincos cortados a laser –seja lá o que isso significa – que seriam necessários naquela viagem que nunca foi feita.  E da máscara de caviar com ácido salicílico que o rosto nunca viu, afinal, não é fácil lavar o rosto com soro fisiológico, depois com água morna, passar a tal máscara e esperar quarenta minutos para depois retirar com água de côco fresca.

Precisaria ser uma maquiadora profissional chamada para todas as semanas de moda do ano para conseguir usar todas as sombras adquiridas nos últimos anos. Acho que nem assim. Em nenhuma semana de moda do universo eu usaria uma sombra vermelha com glitter. Sim, eu tenho uma sombra vermelha com glitter. E também um blush lilás e um pó bronzeador que nem depois de dois meses de céu aberto em Saint Tropez ele se adequaria à minha pele. E uma camiseta preta cheia de lacinhos que nem imagino como poderia ser usada. E tantas outras coisas. Tantas.


Coisa de mulher? Talvez. Mas acho que a minha porção masculina tem se pronunciado mais nos últimos tempos. Deixar de desejar tantas coisas? Acho que nem se eu nascesse de novo. Será que é a fase da lua? Os protestos nas ruas? Maturidade? Disciplina? Recessão? Sei não. Nem sobre a sombra vermelha com glitter eu tenho certeza. Afinal, vai que vira moda no inverno 2014 da Chanel? A única certeza nisso tudo é a de que o tal bronzer, de fato, não fica bem em mim. Mas bem que eu podia tentar usá-lo como sombra... ;-)

Um comentário:

Eneida Freire disse...

Como sempre, um excelente texto!
Adoro suas reflexões e o modo como escreve!
Beijo, amiga!
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