maio 30, 2012

Jogar Tudo para o Alto.

No som do carro, uma música diz que dá vontade de jogar tudo para o alto e ir embora com o "você" escolhido pelo compositor. Sempre me encantei por esta expressão: Jogar tudo para o alto. Existe alguma coisa que expresse mais liberdade do que isso? Sim, sim, eu sei que toda liberdade tem o seu preço e que muitas e muitas vezes não estamos dispostos a pagar. Mas deve ser muito bom jogar tudo para o alto. Nada de romantismo, de fugir com a pessoa amada, de viver um amor debaixo da ponte, de morar em uma barraca na beira da praia sem a menor necessidade de qualquer conforto. Se é que eu já tive essa fase "romântica", já passei dela há muito tempo.

Não queria fugir, tampouco jogar a minha vida e as minhas conquistas para o alto. Mas algumas coisas certamente mereceriam ser jogadas para o maior de todos os altos, de forma que nunca mais voltassem. Talvez algumas coisas até desejadas fossem junto, mas o que seriam essas coisas perto da sensação de liberdade que eu sentiria? Talvez essa sensação de liberdade seja a tal felicidade com a qual todo ser humano sonha, todo dia. Talvez não. E se for exatamente o contrário? E se essa liberdade toda for justamente a maior de todas as prisões?

Filosofia demais para a hora do almoço de uma quarta-feira qualquer. Falar de liberdade é falar do que não conheço. Do que ninguém conhece. Apesar de todos se acharem livres. Liberdade para a minha filha de dez anos é não ter tarefa de casa. Para a de seis, é poder dormir e acordar a hora que bem entender. Para o meu sobrinho-afilhado, é não precisar comer nada além de pipoca. Tantos conceitos. Tantas ideias. Cada liberdade com o seu preço. Alguns até baratos, outros nem tanto. Se uma resolve jogar tudo para o alto e não fazer a tarefa de casa, amanhã ficará até mais tarde no colégio. Se a outra dormir a hora que quiser, não acorda para a escola e, consequentemente não conseguirá atingir o seu maior objetivo hoje: escrever com letra cursiva. Isso sem falar das consequências que eu e o pai - carrascos implacáveis dessas liberdades - teríamos que aplicar. E a dieta do pequeno a base de pipoca? Internação e soro, na certa.

Não dá para jogar tudo para o alto. Algumas coisas, com certeza. Já vou começar a minha lista para os próximos arremessos. Mas TUDO, TUDO, não. Ainda que, muitas vezes, eu seja obrigada a reconhecer, como na música do rádio: "Mas que dá vontade, dá..."



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