setembro 28, 2011

TOMOGRAFIA.

Uma dor de cabeça chata, que vira e mexe volta e acaba assustando. É assim comigo também. Sempre foi. Mas com você, filha, é diferente. Se a sua cabeça dói, a minha explode também. A minha, há pouco tempo fiz alguns exames e não descobri nada de especial. Mas eu podia ter todos os dias, desde que a sua não doesse. Ah, não! Dor de cabeça em você, não...

Mas, enfim, como nem sempre o que desejamos para nossos filhos se realiza, você também é vítima dela. A Pediatra resolveu pedir alguns exames. Sangue, urina, fezes, vista e uma tomografia.  É claro que eu sei que é uma precaução, um zelo, vamos ver logo tudo. Mas filho não podia ter que fazer exames. Principalmente tomografias. Você sofreu mais no exame de sangue (ainda que tenha dito que não, do alto dos seus nove anos), mas tomografia tem jeito de coisa séria. Você achou até divertido, meio futurista, eu acho. Mas, eu? Eu não gostei nada, nada. Essas coisas tinham que ser reservadas apenas para adultos já plenamente conformados com a rapidez da vida - ainda que eu não saiba se exista algum assim - mas não para filhos. Estejam eles com nove meses, nove anos ou até noventa, se ainda tivesse uma mãe. Filho não. Filho tinha que nascer saudável, assim permanecer e nunca morrer. Pelo menos enquanto ainda fosse filho.

Filho tinha que ser imune a qualquer vírus, bactéria, tinha que ter super-poderes para resistir a qualquer acidente. Filho tinha que ser de ferro. Mas é de carne e osso. Assim como as mães. E, normalmente, com as mesmas ou parecidas "falhas"genéticas e predisposições. Maldita hereditariedade. As mães, poderosas como só elas podem ser, deveriam ser capazes de criar modelos atualizados, corrigir defeitos que sentiram em si mesmas, chegar quase à perfeição. Não seria na hora da concepção que as mães mais se assemelham a Deus?

Talvez por essa semelhança é que não possamos fazer tudo o que queremos. Não podemos proteger nossos filhos de todos os vírus do universo, todos os males da vida. Afinal, é um outro ser humano que está ali. Nasceu da gente, mas tem o seu próprio caminho, suas próprias escolhas. Vamos ter que assistí-los errar, adoecer, acertar, melhorar, cair. Muitas vezes vamos poder ajudar, mas em outras vezes, sequer saberemos da enfermidade ou da dificuldade. Ou, ainda pior, os filhos não vão querer a nossa ajuda, achando que podem suportar sozinhos. É ou não é divina essa relação?

Felizmente, filha, a tomografia revelou pura normalidade. Em poucos segundos, o exame foi realizado. Nada de diferente. De estranho, apenas uma coisa. A atendente te posicionou corretamente na máquina, pediu que você ficasse bem quietinha e disse:

_ Laura, vou pedir a sua mãe para esperar ali na outra salinha comigo, para que ela não se exponha à radiação sem necessidade. Mas, não se preocupe, ela vai estar ali, te olhando por aquele  vidro, tudo bem?

E quando eu estava prestes a dizer: "Sem necessidade? É minha filha, ela é quase um bebê! Ela vai me querer ao lado dela!!! Nada disso, eu fico aqui", você foi mais rápida, filha. E disse, tranquilamente: "Tudo bem!".

E eu, mesmo depois dessa filosofia toda e de repassar mentalmente todas as possibilidades existentes em um curto espaço de tempo, só pude ficar na sala ao lado. Te olhando pelo vidro.

Um comentário:

Larissa Pretti disse...

Rê, acredite: chorar TODA VEZ QUE LEIO UM TEXTO SEU, é sim, coisa boa! :-)