julho 13, 2011

Desconfiança.

Interessante o ser humano. E sórdido, muitas vezes. Falamos de forma tão natural sobre o perdão mas não sabemos como agir quando precisamos perdoar. É claro, estou falando dos erros dos outros porque os nossos erros são extremamente "perdoáveis", afinal, nunca fazemos por mal. Nunca erramos para machucar alguém ou para espalhar o mal, semear a discórdia, criar conflitos. Nós não. Os outros sim. Os erros dos outros são sempre piores. Claro, os outros não são tão bem intencionados como nós, assim, como que por óbvio, é tão mais fácil perdoar-nos. Se estivéssemos na pele dos outros, nos perdoaríamos facilmente. Afinal, nunca são graves assim os nossos erros.

Os erros dos outros, ao contrário, merecem uma (des)atenção maior. Será que é verdadeiramente possível perdoar os outros por completo? Eu achava que sim. Passei a desconfiar. Aliás, hoje, tenho quase certeza de que o perdão só existe para os nossos erros. Falo de perdão sincero, pleno. Porque o perdão superficial, aquele que aparece mas guarda com ele os erros cometidos, acho até que é fácil conceder. Esse perdão fácil  permite a convivência, mas impossibilita a entrega. Perdoando assim, estamos sempre desconfiando, vigiando, acusando, perseguindo, humilhando, massacrando, machucando. Só assim nos sentimos resguardados de verdade para convivermos com quem errou. Afinal, não podemos permitir que o erro aconteça de novo. E de novo, e de novo. Nos preocupamos tanto com a possibilidade do erro voltar a acontecer (e com razão, afinal, foi um erro) que esquecemos de viver. O perdão fácil mata o amor, mata a amizade, aniquila a alegria da convivência, sufoca os sentimentos mais bonitos. Mata porque domina. Mata porque segura. Mata porque desconfia. Mata.

O erro também mata, certamente. Mata a confiança, mata a cumplicidade. Mata o amor? Não sei. Mas começo a desconfiar que sim. Uma leve desconfiança, até porque não conheço alguém que errou apenas poucas vezes na vida. Se vivemos, erramos. Se vivemos, convivemos com erros. Os nossos e os dos outros. Assim, se o erro matasse o amor, não amaríamos mais. Sequer seríamos amados.

Como não queremos deixar de amar e nem de sermos amados, não podemos permitir, então, que o erro mate o amor? Talvez a solução seja uma vida sem erros. Uma solução digna, perfeita. Mas matematicamente impossível. Conclusão exata, a única sem margem de erro. Não errar é impossível. Se conviver com o erro não é uma opção, permaneço com a dúvida: Perdoamos e amamos ou vivemos e matamos o amor?

Quando o erro é nosso, a escolha parece certa: Perdoamos e amamos. Quando o erro é dos outros, tendemos a matar o amor. Matar o amor é mais fácil e menos dolorido. Afinal, podem existir outros amores para substituir aquele que foi assassinado. Perdoar é, de longe, o mais difícil. Mais nobre, talvez, mas infinitamente mais difícil. Até porque AMAR é difícil. Tão difícil que acaba me levando, também, à desconfiança do próprio amor. Sim, porque se o perdão fácil e superficial mata o amor, então o amor não supera tudo. Supera tudo menos o erro? Então não podemos dizer que supera, porque não existe vida sem erro. Mas existe vida sem amor?

Bom, se existe, não é a que desejo. Não é a que eu posso viver. Não é a que eu escolhi viver. Eu escolhi viver com amor, por amor. Não foi a escolha mais fácil, mas foi a minha. A escolha na qual eu acredito. Sem desconfiança.

Um comentário:

Sandra Portugal disse...

Nossa, gostei de vir aqui!!! temos muita afinidade com os temas escolhidos!!! bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//