Nunca fui boa em esportes. Na escolha dos times, eu ficava
sempre por último e era escolhida quando não existia mais opção. E sempre sob
um suspiro misto de desapontamento e resignação das “capitãs”do time. Sempre foi assim.
Acho que até hoje seria, se eu ainda me dispusesse a praticar algum esporte
coletivo. Exímia torcedora e até crítica, mas nunca uma jogadora, ao menos,
regular. Tinha medo da bola, da trave, da cesta, do adversário.
Só nunca tive medo da caneta, das palavras, dos cadernos, blocos, livros e hoje,
das telas do computador. Talvez porque nesse jogo, eu enfrente apenas a mim
mesma. Talvez porque nesse esporte eu não tenha adversários senão aqueles que
eu mesma criei e, por isso, conheço exatamente a força e sei a hora que vão me jogar
no chão. Medo de gente? Acho que
não é o caso. Medo de conflitos? Não. Até porque a palavra talvez os
aproxime mais do que a bola. É
falta de jeito mesmo. Falta de coordenação motora. Noção de espaço físico.
Melhor assim. Prefiro que a noção que me falte seja mesmo a
de espaço físico. E que me sobre a noção do tempo, de
cuidado, do que é razoável, e, principalmente, de felicidade.
Que me faltem gols, mas não me faltem vitórias.
Que me faltem cestas, mas não me faltem sorrisos.
Que me faltem pontos, mas não me faltem palavras.
Que eu continue torcendo.
Que eu possa até tentar de novo, se sobrar coragem.
Que eu possa me arrepender de ter tentado, se tudo for
igual.
Que eu possa vibrar, se tudo for diferente.
Que eu não seja mais a última escolhida do time. Ou que
seja.
Mas que, no jogo de todos os dias, eu possa e saiba escolher.
E que o placar, no fim das contas, continue me fazendo bem.