junho 24, 2012

Amor que viaja.





Deram outro nome para o Amor. Aliás, outro não. Vários outros. Querem, a qualquer custo, que o Amor seja sinônimo de felicidade, de paz, de sucesso, de fotografia, de música, de beijo de cinema. Não acho que seja assim. Não acho que amor possa ser tudo isso e nem tão pouco. Não pode existir amor ser reservas, sem ressalva, sem condições. Ou talvez eu não tenha evoluído a este ponto. Talvez eu seja realmente eu ser de uma pequenez espiritual tamanha que não consiga experimentar esse amor aí, pregado aos quatro cantos. Não amo nem a mim mesma de forma incondicional. Aliás, me odeio tantas vezes. 

Me odeio quando à noite prometo que no outro dia correrei  cinco quilômetros, tomarei três  litros de água, comerei as porções de frutas necessárias e arrumarei os guardaroupas e, quando chega este outro dia, ignoro solenemente tudo aquilo que me parecia tão essencial em troca de algumas horas a mais de sono, televisão, pipoca e coca-cola.Me odeio quando esqueço de verificar a agenda das meninas e percebo, falando dez minutos para o início das aulas, que deveria ter providenciado um bolo de fubá para a festa junina daquele dia. Me odeio quando não ligo para uma tia querida que fez aniversário, ou quando não tiro a maquiagem dos olhos antes de dormir. 

Se me odeio tantas vezes, amaria outra pessoa sem qualquer ressalva? Impossível. Pelo menos para mim. É claro que tomo a liberdade de excluir desse amor condicional as minhas filhas, pois, mesmo odiando acordar no meio da noite ou me deparando com a parede suja de tinta, não deixo de amar. Muito. Agora, os outros amores, são, todos eles condicionais. Cheios de ressalvas. 

Talvez seja essa a beleza. Amar com condições. Amar sabendo que o amor pode acabar a qualquer hora, sabendo que pode não ser para sempre. Amor que não tem nada de paz, de comercial de margarina, de final de novela. Amor que vive uma entrega todo dia, que procura junto a felicidade, mas que não se resume a ela. Amor de gente. Amor de gente que discorda, que é cheia de defeitos, que sente dor, que fica de mau-humor, que tem preguiça, que trabalha demais, que precisa de férias, que quer ficar sozinha às vezes. Amor que às vezes cansa, que às vezes até se perde. 

Amor que não tem resposta para tudo, mas que não cansa de viver perguntando.