abril 26, 2012

A Pequenez dos Problemas.


Abro o guarda-roupas pela manhã e não tenho nada para vestir, mesmo diante da quantidade de roupas que se apresenta a minha frente. Fico nervosa, reclamo da vida, do corpo, dos quilos que sobram ou dos centímetros que faltam. Ainda esbravejando, recebo o telefonema que avisa que a faxineira não vem. Está com o filho doente. Pronto. Qualquer roupa já está ótima, considerando que não posso me atrasar nem um minuto, pois vou ter que dar conta de mais coisa do que pensava. 

Com o grande problema da falta da faxineira, digo para a minha filha se apressar, ao que ela me responde que a garganta está doendo. Chegando mais perto, verifico que ela está com febre. Nem quero mais saber como a casa está ou como vai ficar. Amanhã a faxineira vem e está tudo resolvido. Ligo para a pediatra e agendo a consulta para as quatro. Por enquanto, apenas um antitérmico e a febre já  vai passando. E quase me esqueço daquela reunião importantíssima do meio-dia. A internet está extremamente instável e não consigo finalizar o envio dos relatórios. Esbravejo mais uma vez por não ter enviado os relatórios antes. Reclamo do computador, do servidor e do Steve Jobs.

Mesmo sem os relatórios, mas com a minha presença, a reunião começa. Os relatórios não poderão ser avaliados porque os dados de comparação não foram apresentados por quem deveria. Pra que mesmo eu perdi tanto tempo com eles? Me desculpe, Steve Jobs,  problema não é você. Problema é ter que lidar com gente descompromissada. Mais um ataque interno. Esbravejo agora contra as pessoas, o sistema educacional, a juventude atual.

E me lembro da consulta da pequena. As pessoas são até boas, problema é o trânsito. Como vou conseguir chegar ao pediatra as quatro? Ainda esbravejando contra o trânsito, a quantidade de carros que as pessoas possuem, a falta de educação no trânsito, chego ao consultório com algum tempo de atraso. A médica também está atrasada. Muito atrasada. Pra que mesmo que eu corri tanto?

Quase uma hora depois de ter chegado ao consultório somos atendidas. Desculpando-se pelo atraso, a pediatra informa que a criança que acabou de deixar o consultório foi diagnosticada com um síndrome rara. Cura? Só Deus. 

Agora eu esbravejo contra mim mesma. Problemas? Só parecem grandes até que um outro apareça.

abril 10, 2012

A Nossa Música.

Sempre achei lindo aqueles casais que tem uma música que consideram deles. Aquela que quando toca, eles se olham com carinho e se lembram de todos os momentos bons que já passaram juntos. Principalmente quando se trata de uma música linda, tipo trilha sonora marcante de filme. Aquelas inesquecíveis mesmo, como "The way you look tonight" e tantas outras.
Há vinte anos eu procuro a nossa música. Queria encontrar uma que pudesse nos fazer lembrar de tudo, de cada momento, de cada conquista, de cada olhar. Nunca consegui encontrar.
Já cheguei a pensar que seria "Wish you were here", pois você sempre diz, todo orgulhoso, que foi tocando essa música no violão que me conquistou, lá no Colégio Marista. Que nada! Você já tinha me conquistado há muito tempo.
Pensando bem, a nossa música poderia até ser "Chorando se foi", para relembrar a lambateria em Porto Seguro quando nos olhamos diferente pela primeira vez. Diferente sim, porque já nos olhávamos há bastante tempo. Antes mesmo de você, com dezessete anos, cantar "The Wall" na abertura dos Jogos Internos Marista para uma multidão de pessoas, com outros amigos nossos na formação da banda. E eu, com quinze, fazia a coreografia da dança vencedora daquele ano com as outras meninas.
Já nos olhávamos diferente quando, na volta daquela excurssão para Porto Seguro, ouvíamos "Por Enquanto" no ônibus, mas começamos a nossa história mesmo ao som da banda Akauã, naquela festa do Clube Itajuby.
Poderíamos escolher também "My Girl", música pela qual ficamos apaixonados quando assistimos ao filme Meu Primeiro Amor, e você, já no outro dia, comprou para mim a fita cassete da trilha sonora. Sim, a fita cassete. Porque a nossa história é do tempo da fita cassete.
Ou, ainda, Vento Ventania, que cantávamos juntos e muito alto naquele escort marrom do seu pai quando voltávamos da faculdade. E Elton John, que foi colocado para finalizar a filmagem do nosso casamento? Ah, tem também o Eros Ramazotti, que ouvíamos sem parar na nossa lua-de-mel. Ou o Santana, que me fez enlouquecer em um shopping de Campinas à procura do DVD.
Tivemos a época de termos apenas o Txutxucão como trilha sonora, já que não éramos mais só dois, mas três. E depois, quatro, como somos hoje.
Aliás, hoje, a nossa trilha sonora passa por Kate Perry, Demi Lovato, Lady Gaga, Rihanna, Selena Gomez, Adele e tantos outros ídolos das nossas pequenas, já que a música no carro não somos mais nós quem escolhe. E tantas e tantas vezes estamos lado a lado ouvindo músicas diferentes. Muitas vezes eu critico o seu Bee Gees enquanto você não tem paciência para a minha Rita Lee. Mas, no final das contas, todas elas entram no IPod.
De tanto procurar a NOSSA MÚSICA, eu acabei acreditanto que não podemos ter uma. Porque você não é um só pra mim. E eu não sou uma só para você. Somos muitos para nós mesmos. ´Muitas músicas, muitos anos. Não cabe tudo isso em uma música só. E, de verdade, acho que nem queremos mais que caiba...

abril 08, 2012

Pouco Caso.

Sou de poucas palavras, mas não gosto de pouco caso.
O pouco me incomoda. Não gosto de pouco tempo. Não gosto de pouco espaço.
Dormir pouco me maltrata. Não gosto de poucos travesseiros na cama.
Não gosto de pouca calda de chocolate no sorvete. Não gosto de pouco gelo na coca-cola.
Não gosto de pouco requeijão na torrada.
Não gosto de pouco sorriso. Não gosto de poucas folhas em branco.
Não gosto de pouco perfume, nem de pouca espuma na hora do banho. Não uso pouco hidratante.
Não gosto de poucos sapatos. Apesar da pouca altura, não gosto de pouco salto.
Não gosto de pouca música, nem de poucos livros.
Não gosto de pouca inteligência, nem de pouco humor.
Não gosto de ter poucas opções, mesmo que escolha sempre as mesmas.
Não gosto de poucas cores. Muito menos de poucos amores.