Estou cansada de mim mesma. Estou cansada das minhas vergonhas, das minhas inseguranças, das minhas limitações, das minhas mentiras, das minhas verdades, dos meu orgulhos, das minhas esperanças. Cansei da maneira como me expresso, da maneira como ando, da maneira como sento. Cansei de ouvir. Cansei de entender. Cansei de esperar. Cansei de não escolher que música ouvir. Cansei de falar que eu não gosto de big brother Brasil.
Cansei de dizer que odeio feriado, que eles atrapalham a minha vida. Cansei de compreender as razões das pessoas por qualquer ângulo que elas demonstrem. Cansei de fingir pudores ou prazeres, mágoas ou impressões. Cansei de não dizer não, cansei de fazer o que não posso. Cansei de me calar. Cansei de pedir desculpas por ter defeitos, cansei de esconder qualidades por modéstia. Cansei de não chorar pelo leite derramado. Cansei de sofrer escondido. Cansei de não reclamar e de não pedir ajuda. Cansei do sim. Cansei do talvez.
Cansei de freqüentar lugares que não gosto. Cansei de suportar pessoas que não me acrescentam. Cansei de fazer o meu corpo agüentar o peso das minhas emoções reprimidas. Cansei de achar que alguém só é alguém se gostar de Chico Buarque. Cansei de afirmar sem dúvidas, cansei de precisar saber.
Cansei de dizer que não me importo, que tanto faz.
Cansei. Cansei de procurar ver o melhor em tudo, de parecer uma Pollyanna menina inveterada, otimista ao extremo, sempre esperando a tempestade passar para que o sol apareça ainda mais belo e forte. Cansei de sorrir. De mostrar uma alegria e uma bondade que ninguém tem, nem eu. Acho que muito menos eu. Cansei de funcionar como pára-raio das minhas relações. Em casa, no trabalho, no casamento. Cansei. Cansei de esperar quietinha que as coisas se resolvam, sem falar nada, para não piorar ainda mais a situação. Ou de agir sempre, tentando resolver assuntos que não são só meus. Às vezes sequer são meus em parte. Cansei de tentar segurar as coisas sozinhas para que o “mundo” não tenha mais um problema para resolver. Quer saber? Estou com vontade de agora ser o problema do mundo. Além da dengue, da crise, da fome, do desemprego, das enchentes e das calhordices do senado (com letra minúscula mesmo, porque ele não merece ser chamado de substantivo próprio), o “mundo” vai ter que se preocupar comigo também. Não resolvo mais nada na vida sozinha. O “mundo” vai ter que me ajudar. Ou pelo menos tentar. Assim como eu fiz até hoje.
É isso. Um lado negro, para variar. Ou não.