setembro 20, 2009

Uma Carta para Mim.

Renata,

Quantas vezes quis ter essa oportunidade de te dizer algumas coisas e, pelos acasos do destino, se a tive antes não a aproveitei. Mas, a vida nos reserva algumas coincidências interessantes, como esta de, após ter ficado um bom tempo sem conseguir entrar no meu próprio blog, ter me deparado com esta proposta maravilhosa. Dizer que eu tenho tanto para te falar soa bastante clichê, mas é verdade. Como você tem a mania de se perseguir com críticas desde muito nova, vou aproveitar a oportunidade para tentar te mostrar que muitos elogios também são merecidos. Sabe que, em um balanço desses trinta e quatro anos eu posso dizer que sou muito orgulhosa de você?

Pois é, sou mesmo. Orgulhosa da vida que você construiu, orgulhosa das filhas lindas que você tem, da sua carreira, do seu casamento...Tudo aconteceu tão rápido que quase não tivemos tempo de conversar direito sobre essas decisões, mas o seu instinto trabalhou e ainda trabalha muito ao seu favor. Começou a namorar tão cedo, com 16 anos, entrou na faculdade com 18, se formou e se casou com 22. Teve a primeira filha aos 26, a segunda aos 30. Mudou-se para a casa que escolheram juntos aos 32. Aprendeu a gostar de cachorro por causa de suas filhas. Deixou de dormir até o meio dia nos fins de semana também por causa delas. Tem uma rede na varanda do seu quarto para ler, como sempre quis. Continua teimosa, porém otimista inveterada. Continua fazendo de tudo para se manter no mundo de paz que sonhou para você. Continua sem coragem de dizer não. Tenta aprender, às vezes acho que até tem feito algum progresso. Continua comendo porcaria e apaixonada por chocolate. Continua tomando litros de coca-cola zero e adorando comprar bolsas novas. Está com pressão alta aos 34 anos, mas perdeu quatro quilos no último mês e não faltou a nenhuma sessão de pilates. Ainda vou continuar insistindo para você começar a caminhar, mas não posso negar que estou feliz com o seu progresso.

Também assumo a minha parte da culpa por alguns desses pecadinhos que você comete, muitas vezes fecho os olhos para eles e passo a mão na sua cabeça como uma mãe faz a um filho desobediente e não digo o que deveria, apesar de ter certeza de que você já sabe tudo o que eu vou dizer e agiria com aquele ar blasè de quem pensa: "De novo essa história?", mesmo sabendo que eu estou coberta de razão.

Mas a poesia da vida é justamente essa. Criar as regras e transgredí-las algumas vezes, mantendo esse equilibrio que costumamos chamar de harmonia.

Harmonia. Adoro esta palavra, assim como sei que você também. Tal como casa, nuvem, amigo, amor, estrela, brilho, vento, azul, travesseiro, sorriso, sentido, música, paixão, letra, universo, carta, revista, poesia, abraço, olhar, filhas, vovó, festa, livro, mãe, aniversário, saudade, almoço de domingo, perfume, criação, cheiro, calor, margarida, marido. Palavras que formam uma vida, uma pessoa. Palavras que te formam. Palavras que me formam. E assim vamos. Com as nossas palavras preferidas e com as nossas regras e transgressões, com as nossas culpas e as nossas conquistas.

Você tem ido bem. Repito que estou orgulhosa. É claro que temos muitas coisas a construir, consertar e desmanchar. Mas esses serão assuntos para uma outra carta, afinal, eu prometi que esta primeira falaria sobre os meus elogios para você.

Fique com Deus, Renata.

Com amor, sempre,

Renata.

setembro 19, 2009

A Bruxinha Que Era Boa.

Há mais ou menos 22 anos eu participei da montagem na escola da peça "A Bruxinha que Era Boa", de Maria Clara Machado. Eu fui a Bruxinha Caolha, a mais malvada de todas e a primeira aluna na "Escola dos Bruxos". Minha risada de bruxa fazia sucesso na escola toda.

Este ano, a turma da Laura na escola encenou a mesma peça na Mostra de Teatro Infantil, no mesmo Colégio aonde eu estudava. O papel dela? A Bruxinha Caolha. A mais malvada de todas e a primeira aluna na "Escola dos Bruxos". Não foi ironia do destino. Quando ela me disse que eles fariam a peça, eu disse que papel tinha interpretado, e ela pediu à professora que fizesse o mesmo. A professora estranhou, pois todas as meninas da classe queriam ser a Bruxinha Ângela, com cabelo lisinho e brilho nos lábios, e a Laura insistia na bruxa má, com olheiras, peruca, unhas e batom preto. Ela não abriu mão. Disse que queria ser o que eu tinha sido.

Não sei se alguma mãe já recebeu homenagem mais linda do que essa, nem sei ao certo se ela tem consciência do amor que demonstrou para mim. Mas o fato é que eu fiquei maravilhada. Com a escolha dela, com a facilidade em decorar as falas (no que eu fiz questão de participar e até lembrava de muita coisa!), com a atuação dela, com a desenvoltura com que continuou sua fala mesmo quando sua peruca caia ao chão, com o trabalho das professoras, coordenadoras, do mesmo Irmão Marcos que estava presente quando a Caolha era eu.

Nesse conto de fadas, a bruxinha Caolha de 1987/88 se casou com o Pedrinho, o mocinho da estória que prende a bruxa na "Torre de Piche". No conto de fadas atual, torço e rezo todos os dias para que a versão 2009 da bruxinha Caolha seja muito, muito feliz. Com escolhas iguais as minhas ou completamente diferentes, mas feliz. Quem sabe outra bruxinha Caolha não dê o ar da graça por volta de 2040...??? Maria Clara Machado certamente continuará encantando seja qual for o tempo.